Despesas totais com energia, incluindo os custos de processos de produção de mercadorias e serviços, se aproximam de 18% da renda das famílias.

O pãozinho nosso de cada dia tem 31% do preço final ao consumidor formado por energia elétrica e gás, que são usados no processo de produção. O peso da energia é ainda maior para carnes e leite, que em média atinge 33,3% do preço da gôndola.

O reflexo direto do custo da energia não se limita à cesta básica. Diversos outros produtos e serviços que estão no dia a dia das famílias também carregam o peso.

Entre os materiais escolares, 35,9% do preço final de um caderno é formado por energia; na reforma ou na construção da casa própria, 24,5% do preço do cimento, e para vestuários, 12,4% são formados por energia.

O estudo, a qual o Valor teve acesso com exclusividade, é da Ex Ante Consultoria Econômica, encomendado pela Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), e mostra que a energia representa em média 23,1% do preço final da cesta básica,
considerando ainda pescados, laticínios e farináceos. Já as despesas totais com energia, incluindo a energia contida nas mercadorias e serviços, se aproximam de 18% da renda das famílias.

Segundo o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa, a elevação dos custos com energia elétrica e gás natural acarretaram nas últimas duas décadas uma perda de bem-estar para as famílias brasileiras.

“Energia é muito mais do que a conta de luz e o posto de gasolina. As pessoas consomem duas vezes mais energia nos produtos e serviços que elas usam ou compram todo mês do que na conta de energia. Queremos mostrar que a energia seria o segundo item da cesta básica, se fosse destacado, atrás apenas das carnes”, explica Pedrosa.

Os dados mostram que a tarifa residencial de energia elétrica acumulou variação de 276,7% e o custo do gás de botijão cresceu 260,7%, considerando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) consolidados em 2019. O sócio-diretor da Ex Ante e coordenador do estudo, Fernando Garcia de Freitas, frisa que o levantamento é o primeiro a considerar os dados decenais do IBGE.

Freitas explica que a conta de luz e de gás nas residências são apenas uma pequena parte da energia necessária para atender ao consumo das famílias brasileiras.

Segundo ele, o encarecimento do custo da energia é um tipo de racionamento via preços e está deprimindo a economia brasileira e encarecendo os produtos e serviços para as famílias.

“A energia que está na conta de luz e de gás é só um pedacinho da energia que a gente consome, o resto está embutido nas mercadorias. O material de construção para reforma [demanda energia na sua produção], ou a cerâmica, que é feita com gás natural, as peças com metal ferroso são feitas com eletricidade (…). Para as famílias brasileiras, 18% do custo de vida para a classe média é com energia”, diz Freitas.

Os mais pobres sofrem mais
Os reflexos do processo contínuo do encarecimento da energia elétrica e do gás natural – fontes de energia fundamentais na produção e no consumo final das famílias – são sentidos muito mais pelos mais pobres.

Para as famílias com renda de até R$ 1.908 por mês, em 2018, as contas de luz e gás e as despesas com combustíveis absorviam 9,1% da renda. Para famílias com renda superior a R$ 23.850, o peso do custo direto com energia elétrica, gás e combustíveis, foi de apenas 3,5%.

O levantamento mostra que reduzir o custo da energia funcionaria como uma política social, pois refletiria diretamente no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), incluindo o aumento da expectativa de vida da população e da escolaridade média das novas gerações.

“O IDH brasileiro recuperaria dez posições (…). Não é só uma questão da indústria, mas do desenvolvimento do país e da sociedade. Isto precisa sair das discussões de dentro do setor elétrico e econômico. Reduzir o custo da energia no Brasil sem marretada, usando nosso potencial renovável e competitivo, desmontando os cercadinhos vips do setor de energia, seria uma política de desenvolvimento social”, afirma Pedrosa, da Abrace.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/06/13/energia-representa-231percent-do-preco-final-da-cesta-basica-do-brasileiro-revela-estudo.ghtml

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